PrincÃpios básicos de bem estar sócio-sexual além do equilÃbrio mental fazem parte de uma medicina sistêmica. O dialogo deve existir com o doente e não com a doença, pois não é só o corpo que sofre, mas também a fantasia deste próprio corpo. É preciso devolver ao paciente o status de sujeito para evitar seu desmembramento e a perda do prazer.
Padrões cartesianos rÃgidos e protocolos normativos estabelecem tratamentos e permeiam as condutas médicas (embora muitas vezes necessários para a sobrevida dos corpos), porém indiferentes à história emocional individual.Ao oferecer espaço para reflexão, o médico sexólogo pode ouvir e ao mesmo tempo ler nas entrelinhas o verdadeiro significado do que existe nos bastidores de cada corpo, abrindo espaço para além do aspecto causa/efeito.
Comportamentos sexuais (sexo performático, fobia sexual, desejo sexual hipoativo, anorgasmia, ejaculação precoce e disfunção erétil) que causam sofrimento e angustia, podem ser explicados como sintomas de uma baixa autoestima ou oriundos de questões emocionais inconscientes encobertas e desvalorizados por compensações (sociais, status, filhos, dinheiro, poder).
Diferente de uma anamnese médica, onde a descrição deve conter dados direcionados, fixos e relacionados à doença, possibilitando o tratamento padronizado, o processo em terapia sexual compreende e trabalha o sintoma do individuo como um corpo social ausente de si mesmo e de seu espaço.
Na terapia sexual, a comunicação, tanto no discurso clÃnico falado como o escrito, ocorre em termos de impacto sobre cada leitor ou ouvinte. Bion ressalta que o mesmo material que um paciente nos traz é lido de modos diferentes em cada sessão, mesmo que o texto e o fato sejam exatamente os mesmos na medida em que interpretado por diferentes observadores e de um modo inteiramente individual.
Nos três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Freud demonstra claramente que o desenvolvimento e aprendizado comportamental de cada individuo passa por um longo perÃodo de imaturidade onde influencias socioculturais direcionam atitudes de gênero condizentes com o sexo de nascimento , independente da forma e maneira como cada individuo possa a vir se posicionar ou perceber no futuro
Estas marcações inconscientes direcionam o individuo para comportamentos possÃveis na obtenção de prazeres, e que muitas vezes tais atitudes são confrontadas com aspectos sociais e emocionais que limitam e adoecem os corpos.
A ambiguidade dos sentimentos e de atitudes entre os gêneros é melhor compreendida quando a biologia da reprodução da vida intrauterina mostra que ate a sexta semana de vida intrauterina, o embrião humano ainda possui ambos os ductos genitais com possibilidade para resultar em qualquer um dos dois sexos genéticos. A impregnação hormonal é que determina qual gênero se desenvolvera e que depois sofrera influencias comportamentais sociais e familiares
A antiga medicina sexual (sem o processo terapêutico que individualiza o individuo) catalogou e classificou como patológicos os comportamentos e as atitudes sexuais diferentes daquelas da maioria da população, como forma de controle e para exercer a medicalização causando sofrimento, culpa e psicopatia.
Hoje, a medicina sexual ameniza um pouco em sua classificação e rotulação de alguns distúrbios sexuais (sadomasoquismo, homossexualidade, fetichismo, voyeur etc.) ao inserir a observação de que o problema sexual seria considerado como patológico somente se causasse sofrimento.
Freud, em sua teoria sobre os Três Ensaios da Sexualidade, nos fala que boa parte dos desvios da vida sexual normal posteriormente observado tanto nos neuróticos quanto nos perversos é estabelecido desde o começo pelas impressões do perÃodo infantil, supostamente desprovido de sexualidade. Também participariam a complacência constitucional, a precocidade, a caracterÃstica da adesividade elevada e a estimulação fortuita da pulsão sexual por influencias estranhas. Todavia, a conclusão insatisfatória que emerge dessas investigações das perturbações da vida sexual provém de não sabermos, sobre os processos biológicos que constituem a essência da sexualidade, o bastante para formar, com que base em nossos conhecimentos isolados, uma teoria suficiente para compreendermos tanto o normal quanto o patológico.
Haveria uma amnésia ate os oito anos de idade encobridora das atividades eróticas que deixariam rastros na vida anÃmica que seriam determinantes em adulto. Como resultante, destas primeiras marcações em tenras idades, boa parte dos distúrbios em neuróticos e em perversos teria como causa imprinttings durante o perÃodo infantil. Ademais, o social corrobora fortemente no comportamento sexual, confundido o individuo em sua trajetória humana de massificação como forma de felicidade.
Hellen Kaplan observa que não existe método prático pelo qual as manifestações patológicas do desejo sexual humano possam ser medidas com subjetividade cientifica, necessitando de parâmetros comportamentais e subjetivos em sua tentativa de estabelecer as normas sexuais humanas a despeito das limitações obvias desta abordagem.
Especula que todas as experiências que são sexualmente estimulantes para a criança, ocorrem durante um perÃodo critico de desenvolvimento (possivelmente antes que a criança seja velha o suficiente para entender mentalmente o que esta acontecendo com ela, mas antes que seus desejos e fantasias sejam formados, isto é enquanto estes ainda estão em um estado maleável e amorfo) podem-se tornar programadas permanentemente e indelevelmente em seu software erótico.
Assim, as experiências excitantes mais precoces estão entre as primeiras influencias que moldam o desejo sexual humano. O contato emocional e ou fÃsico intimo, continuo e repetido de prazer mutuo que a criança tem com seus parentais de forma saudável ou não (brincar, dormir junto. Afagar, cócegas, beijar, lamber, abraçar, tocar, banhar, vestir soprar etc.) seriam inadvertidamente estimulantes eróticos leves para o bebe e crianças pequenas que seriam responsáveis pela formação de fantasias eróticas e desejos sexuais normais
Estas lembranças e desejos precoces podem não ser lembrados por si, mas não são apagados e exercem influencias fora da consciência e se tudo correr bem para esta criança na maturidade, ela poderá desejar e fantasiar com alguém que desperte as sensações primevas.
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade enfrentou grande resistência médica, principalmente pela observação de que a sexualidade da criança sob influencia da sedução (perverso polimorfo) poderia ser induzida a todas as transgressões possÃveis, pela pouca resistência nesta tenra idade (vergonha, asco e moral) ainda em processo de construção. Freud demonstrou que além da hereditariedade genética, a existência individual teria uma forte influencia nas atitudes eróticas.
A Terapia Sexual como ciência humana trabalha de forma distinta a saúde biopsicossocial possÃvel a cada individuo. O objetivo será sempre o prazer, e caberá ao analisado visualizar moldes e comportamentos repetitivos e limitantes para que reflita a respeito de atitudes que possibilitem o equilÃbrio orgânico e mental.