Falar sobre a vida dos outros não é um exclusivo feminino, ao contrário do que muitos defendem. Mas enquanto, para as raparigas, este comportamento é descrito como «coscuvilhice», no caso dos rapazes surge transformado em «curiosidade saudável». Isto porque são mais as semelhanças que unem os dois sexos do que as diferenças que os separam. A biologia, afinal, não fala assim tão alto, pelo menos a julgar pelas conclusões de um estudo inédito em Portugal, transformado em livro.
Maria do Mar Pereira, professora auxiliar da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e autora de Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género e Sexualidade entre Jovens na Escola, vestiu a pele de uma estudante e juntou-se a uma turma de alunos do 8º ano, de uma escola de Lisboa, que observou durante três meses. Tudo para comprovar se «a masculinidade e feminilidade são a ordem natural das coisas ou antes uma construção social», explica ao Destak.
As conclusões foram surpreendentes. «Os rapazes e as raparigas não são tão diferentes como pensamos, mas o mesmo comportamento é avaliado de forma diferente e tem nomes diferentes», garante a especialista. Tudo isto fruto das normas e regras incutidas pela sociedade, que determinam, por exemplo, que um homem não pode chorar ou que uma rapariga tem que ser magra. Isto embora, reforça a socióloga, «nem sempre o que as pessoas dizem corresponda ao que pensam ou acham. Nas entrevistas individuais que fiz aos jovens, eles confirmavam que há ideias que consideram estúpidas, mas todos as reforçavam, por acharem que era isto o que se esperava deles.»
Um processo que, segundo Maria do Mar Pereira, «pode parecer banal, mas tem efeitos nocivos. Produz muita ansiedade e insegurança, gera problemas de autoestima e tem impacto em todos os jovens, não só naqueles que são excluÃdos, mas também nos mais populares, que sofrem a pressão para se manterem assim.»
fonte:http://www.destak.pt/artigo/150332-sao-as-normas-e-nao-a-biologia-que-dita-as-diferencas-entre-eles-e-elas